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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

1968: O ANO QUE NÃO TERMINOU



1968 foi um ano de grande efervescência no movimento estudantil não só no âmbito nacional, mas internacionalmente. No Brasil grandes passeatas foram realizadas pelos estudantes contra o governo repressivo.
 O primeiro fato que marca o ano no Brasil é a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto no dia 28 de março, que foi morto a tiros numa repressão policial para desalojar os estudantes que haviam ocupado o prédio do Restaurante Calabouço tentando evitar o seu fechamento. O seu corpo não chegou a ir para o IML, sendo levado para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado.
No dia de seu enterro, 50 mil pessoas saíram às ruas para protestar pela sua morte, levando cartazes nos quais estava escrito “Mataram um estudante! Podia ser seu filho”. O fato chamou grande atenção da população.
A sua missa de 7º dia levou milhares de pessoas a Igreja da Candelária, e foi reprimida com grande violência. Muitas pessoas ficaram feridas e muitos estudantes foram presos.
A morte do estudante  Edson Luís foi um dos marcos na luta contra a ditadura militar, causando uma grande comoção pública e, em consequência, uma grande mobilização contra o regime militar.
No dia 26 de junho do mesmo ano, ocorre a Passeata dos Cem Mil, um dos grandes pontos de mobilização estudantil. Em outubro de 1968, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP situada na Rua Maria Antônia no centro da cidade foi invadida pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), sendo que durante a ocupação um estudante foi baleado e morto.
Outro fato marcante na vida estudantil no ano de 1968 foi a prisão, ocorrida no dia 12 de outubro, de mais de setecentos estudantes que participavam do XXX Congresso da UNE, realizado clandestinamente na pequena cidade de Ibiúna (SP). A prisão de todos estes estudantes, inclusive várias lideranças, auxiliou em muito o trabalho da repressão, visto que todos foram fichados no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). A maioria dos estudantes foi liberada em pouco tempo, enquanto alguns líderes ficaram presos por um período. Foi o caso de José Dirceu, Luís Travassos e Vladimir Palmeira que só sairiam da prisão em setembro de 1969, como alguns dos presos políticos trocados no sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick.
Entretanto, a pior marca de 1968 foi a decretação do Ato Institucional nº. 5, em 13 de dezembro.  O seu pretexto foram dois discursos proferidos pelo deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, em 2 e 3 de setembro.
O AI-5 colocou em recesso o Congresso Nacional e as Assembléias Legislativas Estaduais (artigo 2º); permitiu novamente a cassação dos direitos políticos (artigo 4º); suspendeu as garantias constitucionais de vitaliciedade e estabilidade, mas a medida mais grave estava em seu artigo 10 que suspendeu a garantia de habeas corpus para os crimes políticos contra a Segurança Nacional. Os presos políticos não tinham mais como se livrar das prisões ilegais feitas pelo Estado. Diferentemente dos Atos Institucionais anteriores, não tinha um prazo de vigência pré-determinado. Este Ato colocou o Brasil de vez dentro da doutrina da Segurança Nacional, pois as prisões, as torturas, os desaparecimentos aumentaram. Foi o golpe dentro do golpe.
O ano de 1968 que começou com tanta esperança para o movimento estudantil, terminou de forma abrupta após a decretação do AI-5, varrendo todos os ideais para debaixo do tapete por um tempo, assim a expressão de Zuenir Ventura em seu livro se explica. 1968 foi verdadeiramente um ano que não terminou.

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Este texto faz parte da VIII blogagem coletiva #DesarquivandoBR.

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